sábado, 29 de outubro de 2011



Há dois tipos de pessoas: as pontes e os atravessadores. Pessoas pontes são aquelas construídas por forças maiores, com a finalidade de ligar um mundo ao outro. São feitas de concreto, não possuem sentimentos, afinal, são pontes. Permanecem lá durante anos, sofrendo as ações do tempo, da natureza, recebendo rachaduras, sendo pisadas, sujas; eternamente sob os pés daqueles que passam. São de muita serventia, afinal, necessitam das mesmas para unir mundos que, a priori, estavam separados por centenas – até mesmo milhares – de motivos questionáveis, mas ainda separatistas. Mundos que foram determinados, classificados como diferentes e colocados em pontos opostos, através das pontes, passaram a se comunicar.
Entretanto, há os atravessadores. Eles apenas levam as pessoas de um mundo a outro, seguram em suas mãos, entrelaçam seus dedos e ajudam a travessia, incentivando-as, motivando-as, destilando suas ideologias durante o percurso. Possuem contato íntimo com aqueles que precisam atravessar, e aproveitam o momento para demudar as mentes daqueles que buscam união de mundos. Os atravessadores e aqueles que precisam atravessar não irão se lembrar das pontes que ali ficaram sob seus pés, anos após anos, fazendo seu trabalho em silêncio. Lembrarão, pois sim, daqueles que seguraram suas mãos, que lhe deram um ombro, brandiram o guarda-chuva, evitaram os choros. Mas elas continuarão lá, sem questionar, sem deixar de sorrir, sem ter suas partes danificadas pelas ervas daninhas a ganhar espaço em seu corpo em constante envelhecimento, mesmo sendo feitas de concretos. É claro, com certeza, que irão se lembrar dos atravessadores, também com sentimentos, mas escondidos em torres de marfim ou concreto, que sabem separar a bondade da verdade, do futuro, do seu trabalho; pessoas que não se dão por inteira, porque se guardam, se protegem, sabem dos perigos do mundo, do outro, do além, ao contrário das pontes que se abrem por inteira, esticam seus braços e dizem: - “Podem passar, eu estarei aqui sempre. Não vou fechar meus braços para você.” E você passará por ela, pisará na mesma e não irá se importar nem em saber quem ela é. Todavia, não pisará nos atravessadores, pois estará segurando as mãos dos mesmos, olhará nos olhos deles, sentirá os batimentos daqueles corações, o calor daquelas peles. Os atravessadores são de suma importância para assassinar seu particular medo de misturar mundos, experimentar outros corações, bebericar de diversas almas; eles existem para arrebatar o medo de viver. São eles que ao tempo da travessia plantarão sementes em sua cabeça, fazendo sua alma cultivá-las, assim, após o término da travessia, você jamais esquecerá quem o ajudou a passar: aquele que lhe atravessava sobre uma ponte calada.
Desculpem-me, mas eu sou um atravessador.

Indomável

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